04
Dez 09

 

ADITAL -  Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
Entrevista com Kátia Webster: Dorothy Stang. Um crime ainda impune
"O principal legado que a Dorothy deixou foi a forma como ela viveu, ou seja, tratando a terra como se fosse sua mãe", revela a irmã Kátia Webster na entrevista que concedeu à IHU On-Line, por telefone. Ela relembra momentos da vida de irmã Dorothy Stang com quem trabalhou durante 11 anos, no Pará, lutando pelos pobres que não têm terra e são oprimidos pelos madeireiros e fazendeiros da região. No próximo dia 10, o assassino da irmã Dorothy será julgado, quase cinco anos depois de matar a irmã estadunidense. "Os mandantes continuam respondendo em liberdade. Continuam impunes no sentido que os processos de investigação e julgamento não têm chegado ao júri. A esperança é que, no próximo ano, eles sejam finalmente julgados", explicou a irmã Kátia, que faz parte da Congregação das Irmãs de Notre Dame.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quando a senhora conheceu a Ir. Dorothy?
Kátia Webster - Ela estava aqui desde 1982, e eu cheguei em 1993. Então, ela já tinha 11 anos de moradia e trabalho aqui no Xingu antes de eu vir para cá. Na verdade, acho que ela chegou ao Brasil em 1966. Eu vim para o Brasil porque sempre quis morar aqui e somar forças com o povo que estava lutando pela libertação através da palavra de Deus.
IHU On-Line - Passados quase cinco anos do assassinato de Ir. Dorothy, as coisas mudaram na região de Anapu ou continuam como antes?
Kátia Webster - Mudaram, de certa forma. O povo mudou porque se firmou na luta, e a sua organização é sempre mais firme, pois tem assumido a luta pela segurança na terra. O povo luta, portanto, no sentido de saber que a terra é dele, que lá ele pode ficar e não tem quem tire, e ele tem segurança para comercializar o seu produto. Dessa forma, ele procura aprender novas técnicas para que essa terra não "canse", ou seja, para que não fique improdutiva.
IHU On-Line - Os mandantes do assassinato de Ir. Dorothy continuam impunes?
Kátia Webster - Os mandantes continuam respondendo em liberdade. Continuam impunes no sentido que os processos de investigação e julgamento não têm chegado ao júri. A esperança é que, no próximo ano, eles sejam finalmente julgados. Os mandantes estão em liberdade sim, não estão pagando por aquilo que fizeram. Mas o caso não foi encerrado.
IHU On-Line - O medo é o principal inimigo na luta contra a impunidade?
Kátia Webster - Talvez seja medo, mas talvez seja também a questão do dinheiro, ou seja, o que o dinheiro pode comprar para poder segurar, para poder fazer com que seus crimes não cheguem à justiça. Os advogados sempre encontram mais um recurso, mas o pobre não tem acesso a isso. O pobre, quando é acusado, vai logo a julgamento e ponto final. Mas quando há muito recurso envolvido, sempre há mais uma brecha para poder prolongar o processo.
IHU On-Line - Houve avanços com o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), origem do conflito que levou Dorothy à morte?
Kátia Webster - Houve. Quando Dorothy morreu, não tinha muita gente morando dentro do Projeto de Desenvolvimento Sustentável onde ela foi morta. Depois do seu assassinato, entrou muito mais gente no projeto. Nós estamos ainda vivendo um processo de liberar lotes que são do PDS na justiça. O contrato original das terras é dos primeiros donos, que nunca vieram, mas receberam por leilão. Esses donos viviam no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, São Paulo e, como nunca vieram, os contratos foram cancelados. No entanto, alguns espertos venderam esses lotes para o qual foram criados documentos de compra e venda que têm que ser anulados. Este processo de declaração de que as terras são da União é longo. A terra onde Dorothy foi assassinada era assim. Desde que ela morreu, este lote foi declarado para o PDS e para o povo. As estradas já são melhores, ainda não estão perfeitas, as escolas ainda são frágeis, mas a luta continua para que seja uma escola boa. Avanços há, porque o povo está lá dentro e produzindo, mas é preciso ainda mais. Falta assistência técnica aprimorada, precisa terminar as estradas, construir as escolas de alvenaria, terminar as casas, puxar a energia que ainda não chegou e tirar o resto dos lotes que ainda estão com a justiça.
IHU On-Line - Qual a sua avaliação da ação do governo na região?
Kátia Webster - Estamos com o INCRA e o IBAMA aqui, mas eles ainda são fragilizados, não estão recebendo os recursos necessários para cumprir sua agenda na região. O governo do estado é ainda mais frágil, ele não tem dado o apoio ao povo, assim como o governo do município, que está muito aliado aos fazendeiros e madeireiros.
IHU On-Line - Com quem vocês contam na região?
Kátia Webster - Em primeiro lugar, é o povo mesmo, o desejo de se organizar e ver os filhos seguros. A gente conta com essa organização e com órgãos como o INCRA e o IBAMA - embora sejam extremamente frágeis. Além disso, contamos com as igrejas do município, não apenas a igreja católica.
IHU On-Line - O filme "Mataram Irmã Dorothy" tem auxiliado na luta que se trava na região?
Kátia Webster - Eu acho que sim, porque, de certa forma, abriu os olhos para a luta. Hoje vemos até que ponto tem gente que é capaz de se vender por dinheiro. Além disso, ajudou, valorizando o povo e sua luta, com isso, ele se sentiu fortificado. Essas forças são muito importantes, pois determinou o povo a viver dentro desse processo de sustentabilidade. O filme mostrou isso.
IHU On-Line - É correto afirmar que o caso ganhou repercussão mais forte no exterior do que no Brasil?
Kátia Webster - Acho que não. Sinto que a questão é muito forte no Brasil. Sei que tem certos pontos lá fora onde divulgam. Mas onde teve repercussão foi aqui. Seja onde for, no Brasil, nos lugares onde andamos, há pessoas que nos procuram e perguntam: "você é irmã da Dorothy?", "como está Anapu hoje?". Sinto muito respaldo aqui no Brasil.
IHU On-Line - Na opinião da senhora, qual foi o principal legado que a Ir. Dorothy deixou?
Kátia Webster - O principal legado que a Dorothy deixou foi a forma como ela viveu, ou seja, tratando a terra como se fosse sua mãe. Estamos aqui para conviver com essa terra, e não para explorá-la. Estamos aqui para viver de tal modo que não podemos tirar a vida da terra até acabar com ela. A luta tem que ser feita em união, e não apenas por uma pessoa. Precisamos acreditar uns nos outros, a vida se sustenta na união e na convivência com a natureza. Além disso, a persistência da Dorothy é um legado. Ela não desistia. A vida é para todos mesmo, e o sistema econômico vigente oferece lucro apenas para poucos. Vai ocorrer, em Copenhague, um encontro sobre o clima e o meio ambiente. Sobre isso, nós perguntamos: os países maiores, como Estados Unidos e China, estão realmente dispostos a concordar com o uso dos seus recursos? Se isso não acontecer, a coisa não vai andar, pois eles querem os benefícios apenas para eles.
IHU On-Line - A senhora também já recebeu ameaças de morte?
Kátia Webster - Nunca. A gente trabalha muito de forma anônima.
 
* Instituto Humanitas UnisinosPara receber o Boletim de Notícias da Adital escreva a adital@adital.com.br
publicado por encontromarcado às 00:22

26
Nov 09

 

O homem olha o entardecer na linda praia, ao lado de sua mulher, durante suas merecidas férias. Tudo parece absolutamente no seu lugar, e de repente, do fundo do seu coração, surge uma voz simpática, companheira, mas com uma pergunta difícil: “Você está contente?” “Sim, estou”, responde. “Então olhe com cuidado à sua volta”. “Quem é você?” “Sou o demônio. E você não pode estar contente, porque sabe que, cedo ou tarde, a tragédia pode aparecer e desequilibrar seu mundo. Olhe com cuidado à sua volta, e entenda que a virtude é apenas uma das faces do terror”. E o demônio começa a mostrar tudo o que está acontecendo na praia. O excelente pai de família que neste momento empacotava as coisas e ajudava os filhos a colocarem um agasalho, que gostaria de ter um caso com a secretária, mas estava aterrorizado com a reação da mulher. A mulher, que gostaria de trabalhar e ter sua independência, mas estava aterrorizada com o a reação do marido. As crianças que se comportavam bem, com terror dos castigos. A moça que lia um livro, sozinha numa barraca, fingindo displicência, enquanto sua alma aterrorizava-se com a possibilidade de jamais encontrar o amor de sua vida. O rapaz com a raquete exercitando seu corpo, aterrorizado pelo fato de precisar corresponder às expectativas de seus pais. O velho que não fumava e não bebia dizendo que tinha mais disposição agindo assim, quando na verdade o terror da morte sussurrava como o vento em seus ouvidos. O casal que passou correndo, os pés espalhando a água da arrebentação, o sorriso nos lábios, e o terror oculto dizendo que iam ficar velhos, desinteressantes, inválidos. O homem que parou sua lancha na frente de todos e acenou com a mão, sorrindo, queimado de sol, sentindo terror porque podia perder seu dinheiro de uma hora para a outra. O dono do hotel que veio cumprimentar seus hóspedes no momento em que o sol se escondeu, tentando deixar todos contentes e animados, exigindo o máximo de seus contadores, com terror na alma porque sabia que — por mais honesto que fosse — os homens do governo sempre descobriam as falhas que desejassem na contabilidade. Terror em cada uma daquelas pessoas na linda praia, no entardecer de tirar o fôlego. Terror de ficar sozinho, terror do escuro que povoava a imaginação de demônios, terror de fazer qualquer coisa fora do manual do bom comportamento, terror do julgamento de Deus, terror dos comentários dos homens, terror da justiça que punia qualquer falta, terror da injustiça que deixava os culpados soltos e ameaçadores, terror de arriscar e perder, terror de ganhar e ter que conviver com a inveja, terror de amar e ser rejeitado, terror de pedir aumento, de aceitar um convite, de ir para lugares desconhecidos, de não conseguir falar uma língua estrangeira, de não ter capacidade de impressionar os outros, de ficar velho, de morrer, de ser notado por causa de seus defeitos, de não ser notado por causa de suas qualidades, de não ser notado nem por seus defeitos, nem por sua! s qualidades. “Espero que isso o deixe mais tranqüilo”, terminou o demônio. “Afinal, você não está sozinho com seus medos”. “Por favor, não vá embora sem antes ouvir o que tenho a dizer” respondeu o homem. ”Temos uma capacidade incrível para detectar dores, remorsos, feridas – ou terror, como você prefere. Mas certa vez meu pai me contou a história de uma macieira que, de tão carregada de maçãs, não conseguia deixar que seus galhos cantassem com o vento. Alguém que passava perguntou por que ela não procurava chamar a atenção, como todas as outras árvores. ‘Meus frutos são minha melhor propaganda’, respondeu a macieira”. “Claro que não sou diferente de ninguém, e meu coração abriga muitos medos. Mas apesar de tudo, os frutos de minha vida falam por mim, e se algum dia acontecer uma tragédia, eu sei que não passei minha vida sem arriscar”. E o demônio, decepcionado, partiu para tentar assustar outras pessoas mais fracas.

 

Paulo coelho

publicado por encontromarcado às 11:14

05
Nov 09

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2009/11/04/ult4326u1430.jhtm

 

publicado por encontromarcado às 09:54

13
Out 09
http://www.comciencia.br/comciencia/
publicado por encontromarcado às 14:36

04
Out 09

 

 
 
 
Olhar pra frente. E olhar pra trás.
 
Agora que o papel picado já começa a ser recolhido nas ruas, e o sol já se pôs atrás do redentor acima da cidade, é tempo de entender o tamanho do que o Brasil conquistou. Na próxima década, uma planetária lupa se aproximará do país - mais especificamente do Rio de Janeiro. Uma final de Copa do Mundo. Os Jogos Olímpicos. O que o COI fez nesta sexta-feira de outubro em Copenhague foi marcar pênalti a favor do Brasil. Um imenso e impensável pênalti. Um pênalti claríssimo. É esse pênalti que o Brasil tem agora sete anos para cobrar. O problema é o goleiro. Quem é o goleiro?
 
Nelson Rodrigues escreveu certa vez que o brasileiro é um narciso às avessas - pois adora cuspir em sua própria imagem. Quem se acostumou a freqüentar o Maracanã nos anos 80 e 90 – e a patinar pelos rios de urina que corriam no anel de arquibancadas, entende profundamente a frase. O brasileiro é assim – adora reclamar do Brasil. Mas… na hora de melhorá-lo, bom, quem nunca furou um sinal (ou farol) vermelho?
 
A ironia é que o brasileiro é assim mesmo – adora falar mal do Brasil, e adora ser brasileiro. Vê alguém furando fila? Se indigna. Chega atrasado e tem uma brecha? Ah, só hoje. No fundo, odiamos e amamos essa malandragem ao mesmo tempo. E amamos porque acreditamos que ela nos traz uma vantagem ímpar. Ninguém sabe driblar como o brasileiro… ninguém sabe resolver as coisas difíceis como o brasileiro. Devíamos ter patenteado o jeitinho há 500 anos, claro.
 
Como sabemos profundamente que somos assim… no dia em que conquistamos o direito de sediar uma Olimpíada, o brasileiro está feliz… e cético. Está comemorando, mas dizendo que “vão meter muito a mão”. Está orgulhoso, mas com pé atrás. É justo. Basta olhar para o passado recente. Os céticos dirão – não sem razão – que somos especialistas em superfaturamento com vara, em orçamento à distância, em 110m sem algemas e esportes afins. Dirão sobretudo que o não-legado do Pan de 2007 lança enormes nuvens sobre os jogos que virão. É verdade. Muito verdade.
 
Quando o Rio ganhou o direito ao Pan, promessas foram lançadas ao léu. E quase nada se cumpriu. A cidade ganhou dois ou três equipamentos de primeiro nível, alguma infra-estrutra em segurança, fez jogos sem violência… e só. Não houve despoluição da Baía da Guanabara. Não houve metrô para a Barra da Tijuca (nem para o nunca). Não houve TransPan. Houve, sim, uma denúncia de sobrepreço atrás da outra. O carioca se sentiu traído.
 
Perto de uma Olimpíada, o Pan custa um troco. A previsão brasileira para 2016 é, hoje, de R$ 25 bilhões de gastos. A experiência mostra que esse é apenas o ponto de partida. E é exatamente aqui que devemos parar. Parar e olhar, nacionalmente, para a frente.
 
Há 15, 20 anos seria impensável ver o Brasil sediando os dois maiores eventos esportivos do planeta. Mais que impensável, seria risível. O Brasil tinha uma democracia infantil, inflação galopante e pouca projeção planetária. Era uma terra exótica de onde veio o Pelé, repleta de traseiros, macacos e cobras. A capital se chamava Buenos Aires, o carnaval era um barato… e pegando um táxi em Ipanema você desembarcava na Amazônia.
 
A vitória de hoje mostra que algo mudou. Hoje, o mundo já ouviu falar de São Paulo. Já ouviu falar de Brasília. Já não enxerga o Brasil como aquele nanico curioso que sabe jogar futebol. O proverbial país do futuro começa a olhar pra frente com confiança. Mas, para que isso funcione, é preciso – como diria Roberto Carlos – é preciso saber viver.
 
Sim, porque a corrupção continua saltitante e ululante. Assim como o jeitinho e seu subproduto mais vil – a impunidade. E decerto, em corredores e subterrâneos, há sinistras ratazanas salivando diante das oportunidades à frente. Mas esses bichos existem desde sempre – e existiram em todos os países. A questão, para o Brasil, é outra.
 
O Brasil precisa mudar por dentro. Precisa abolir suas regras surdas – precisa deixar de achar que conchavo e conversinha resolvem os grandes problemas. Precisa, em resumo, abolir o malandro. Do futebol à política, o Brasil valoriza a ginga e o drible. Mas quando um dribla… outro é driblado. Todo malandro precisa de um otário. E, nesse particular caso, poucos são malandros, quase 180 milhões são otários.
 
Então, é uma proposta singela. Precisamos revogar a lei de Gerson, parar de acreditar que o jeitinho é legal. É uma diferença sutil - a ginga é bacana, enganar o próximo não. Devemos endurecer como Che, sem perder a ternura - pois a ternura é nossa maior identidade. Essa sutileza - a fronteira entre tolerância e impunidade - é que precisamos entender. Aprender a punir quem precisa ser punido sem deixar de gostar de festa - taí nossa missão para os próximos sete anos. Não é tarefa fácil – pois rebeldia e malandragem fazem parte de nossa identidade há cinco séculos.
 
Temos, pois, sete anos para aproveitar a oportunidade e transformar o Brasil. Não roubar, e não deixar roubar. Fiscalizar – e se indignar. Participar – e cobrar. São verbos bonitos hoje – mas chatos quando o tempo passa, dão trabalho. Se não aprendermos a conjugá-los, se deixarmos pra lá, se acharmos que é com os outros… é bem possível que tenhamos um belo evento esportivo daqui a sete anos – como tivemos em 2007. E isso, obviamente, será perder uma chance única.
 
É esse o pênalti que o Brasil precisa cobrar. Perdê-lo… será deixar passar o mais encilhado cavalo desta história tropical.
 
GUSTAVO POLI (Colunista do Globo Esporte)
publicado por encontromarcado às 22:04

 

 
 
 
Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira deImprensa).
 
Vírgula pode ser uma pausa... Ou não.
Não, espere.
Não espere.
 
Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
 
Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
 
Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
 
E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
 
Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.
 
A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.
 
Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da suainformação.
 
*Detalhes Adicionais*
'*SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO ÀSUA PROCURA. '*
 
Se você for* mulher*, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
Se você for* homem*, colocou a vírgula depois de TEM.
 
publicado por encontromarcado às 21:09

23
Set 09
Pense em alguém que seja poderoso.
Essa pessoa briga e grita como uma galinha ou olha e silencia, como um lobo?
Lobos não gritam.
Eles têm a aura de força e poder.
Observam em silêncio.
Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.
Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.
Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos.
Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis.
Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.
Olhe.
Sorria.
Silencie.
Vá em frente.
Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar.
Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.
Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.
Não é verdade!
Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que reagir.
Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal.
Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.
Se escolher o silêncio verá que, muitas vezes, ele pode ser poderoso...
publicado por encontromarcado às 20:54

13
Set 09

 

 
Abrir a mente para novas falas, a alma para abrigar o “outro”, libertar-se de convenções e de formatos preestabelecidos, enfim, tirar os sapatos, que protegem o homem, mas também isolam e evitam o contato com um chão de muitas verdades e possibilidades. Foi traçando a rota seguida por Abraão, patriarca das três religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo – que o rabino Nilton Bonder, com os pés no chão, aprendeu que mais importante que o destino da viagem é o caminho percorrido. Em 2006, Bonder foi convidado a participar, ao lado de 23 representantes de diferentes países e religiões, de uma peregrinação pelo Oriente Médio: é O Caminho de Abraão, projeto do Departamento de Mediação de Conflitos da Universidade de Harvard, que visa a apoiar a abertura de uma extensa rota de turismo histórico e cultural para refazer a jornada deste importante personagem pela região - que vive em tensão permanente - há cerca de quatro mil anos. Em Tirando os sapatos, o rabino relata suas experiências durante a caminhada.
 
O relato é apresentado de duas formas distintas: uma é um diário de viagem, no qual Bonder descreve suas impressões dos locais por que passou e da convivência com o eclético grupo – formado por pessoas de diversas crenças e religiões – com que conviveu, extraído de uma longa entrevista à jornalista Tania Menai. A outra representa a sua viagem espiritual, que mostra suas etapas de estranhamento ao se defrontar, durante a peregrinação, com diferentes significados que a trajetória de Abraão tem para as três religiões.
 
Mais que um destino turístico, O Caminho de Abraão tem o potencial de promover o desenvolvimento comunitário, a formação de lideranças jovens, a preservação do patrimônio histórico e do meio ambiente e uma imagem positiva da região na mídia, destacando a hospitalidade de seu povo e, mais importante, o encontro entre pessoas e o diálogo entre religiões diversas. Diálogo que começou no próprio grupo de Bonder. Apesar de a maioria dos participantes ter uma visão neutra da região, havia quem tivesse definida inclinação pelo mundo árabe: um xeque turco, um padre italiano radicado na Síria e um paquistanês islâmico. Este último nutria opiniões muito radicais sobre Israel e mostrou-se bastante incomodado quando soube que Bonder é judeu.
 
Foi uma viagem de alguma tensão para Bonder, que teve que omitir quase o tempo todo sua condição de rabino para poder circular pela região. A solução para aliviar esta pressão foi não reagir àquilo que o rejeita, abrir-se para o ponto de vista do outro, muitas vezes indo de encontro ao que pensava, incluindo as do paquistanês, de quem, por fim, conseguiu virar colega, após longa troca de idéias.
 
Também foi por meio desta convivência que Bonder ouviu teorias interessantes como a de que os conflitos religiosos no Oriente Médio teriam uma explicação geológica, segundo uma profissional de Harvard: a área é uma área turbulenta, incluindo o Mar Morto, a região mais baixa do planeta. Ali ocorrem muitas movimentações tectônicas devido à presença de um cinturão sísmico. Curiosamente, todas as regiões do mundo com movimentos tectônicos são áreas de alta espiritualidade: a Califórnia, os Andes, o México, o Himalaia. Áreas geologicamente instáveis ativam, no ser humano, a necessidade espiritual. A estabilidade traz acomodação.
 
Diferentemente de um turista comum, o peregrino aprende mais no trajeto: o que importa é estar sempre em movimento, mesmo que não se saiba qual é a chegada, o ponto final da viagem. É durante o caminho que ele aprende a se desfazer da bagagem – que representa, assim como os sapatos, a identidade do indivíduo, uma forma de proteção da pessoa em relação ao desconhecido. O importante aqui é, como fez Bonder, jogar-se na interação com o lugar e, principalmente, com as pessoas. Não ter medo de perder a identidade. É por meio da alteridade, de olhar o mundo pelo olhar do outro, que se pode desfazer de sapatos, bagagens, preconceitos e intolerâncias.
 
Foi a partir desta visão que Bonder identificou como as religiões vêem a importância e a história de Abraão de formas diferentes e desenvolveu o conceito de “paralelismo histórico”. A História não obedeceria necessariamente a uma cronologia rígida, em que um evento vem antes do outro, estabelecendo um único fluxo que comporta uma única verdade: “A História não é tão consecutiva e cronológica como me haviam ensinado e como eu a percebia. Há um paralelismo na História. Coisas acontecem ao mesmo tempo, ou mais do que isso, enquanto coisas estão acontecendo para um grupo estão também acontecendo para o outro. Não há apenas um acontecimento sobre o qual se possa determinar a autoria e patrimônio.”
 
Com 1.200 quilômetros, a rota tem início nas ruínas de Haran, na Turquia, local onde, acredita-se, o patriarca ouviu pela primeira vez o chamado de Deus. E se estende por todo o Oriente Médio, incluindo cidades históricas como Alepo, Damasco, Jericó, Nablus, Belém e Jerusalém, e regiões de grande riqueza natural e cultural como as colinas do Líbano, a região de Ajloun da Jordânia e o deserto de Grajev, em Israel. No trajeto, encontram-se alguns dos locais mais sagrados do mundo. O ponto alto é a cidade de Hebron/ Al Khalil, local do túmulo de Abraão. Futuramente, o caminho será estendido para englobar as idas e vindas de Abraão rumo ao Egito, Iraque e, para os muçulmanos, Meca, na Arábia Saudita. O Caminho de Abraão é um projeto em andamento e mais informações podem ser encontradas em www.abrahampath.org.
 
TIRANDO OS SAPATOS – Nilton Bonder - Editora Rocco - 2008
 
 
 
 
publicado por encontromarcado às 23:50

11
Set 09

 

 
 
A mais consciente das demandas é a de poder atender ao “desejo”, mas limitar-se à “necessidade” por obra da maturidade pessoal
 
Por Eugenio Mussak
 
Demanda significa busca, interesse por um produto ou por um serviço por parte de um segmento do mercado. Parece simples, mas é um conceito tão importante na atualidade, que merece um pouco mais de reflexão.
 
Antes, é importante definir outras duas palavras: necessidade e desejo. Necessidade é uma força que surge para atender a uma exigência orgânica, vital para o organismo, seja de uma pessoa, de um conjunto de pessoas, de uma empresa, de uma sociedade, de um país. De acordo com o psicólogo nova-iorquino Abraham Maslow (1908-1970) todos nós temos necessidades, e estas estão classificadas em cinco tipos, e nós só nos esforçamos para atender a uma necessidade quando a anterior, mais importante, já estiver atendida. São as necessidades: fisiológicas (comer, ter calor, excretar...), segurança (física e emocional), sociais (principalmente a de pertencer a grupos de semelhantes), afeto (sentir-se amado) e, por último, o autodesenvolvimento (que implica em conquistas intelectuais, principalmente).
 
Com relação aos desejos, eles não são uma exigência orgânica, e sim uma exigência psicológica, em que os determinantes são principalmente culturais. Poderíamos dizer que um desejo é uma necessidade cultural. Por exemplo, eu posso estar “necessitando” de um automóvel, e “desejando” um Mercedes Benz. Desejos e necessidades não são, portanto, excludentes, mas é necessária uma boa dose de consciência e maturidade para entender a diferença.
 
E finalmente chegamos à demanda novamente. Trata-se de uma relação adequada entre o binômio “necessidades e desejos” e a condição financeira para satisfazê-lo. Em outras palavras, de nada me adianta necessitar ou desejar se eu não tiver o dinheiro necessário e suficiente para atender à necessidade ou ao desejo. Eu necessito de um carro, desejo um Mercedes, mas “demando” um Celta básico.
 
Por isso a indústria interessa-se pelas demandas do mercado. As empresas de publicidade dizem que a indústria está atendendo aos nossos “desejos”, mas na verdade está atendendo às nossas “demandas”.
 
A ansiedade, estado emocional tão presente no homem contemporâneo, deriva da distância entre a necessidade e o desejo, enquanto a angústia vem da distância entre o desejo e a demanda. O drama central do homem atual não está em desejar o que não precisa, mas em desejar o que não pode demandar. Quem deseja o que não necessita pode ficar ansioso, quem deseja o que não pode demandar ficará angustiado.
 
Necessidades, desejos e demandas. Três características do homem contemporâneo, que viverá melhor quanto mais equilíbrio entre elas conseguir estabelecer. Poder conjugar mais vezes o verbo desejar do que o verbo necessitar é uma conquista, que depende de dedicação, preparo, tempo. Há uma certa autoridade vitoriosa em poder atender aos desejos com a mesma fleuma que se atende às necessidades, e dessa forma manter completo controle sobre as demandas pessoais.
 
Mas a mais consciente das demandas é a de poder atender ao “desejo”, mas limitar-se à “necessidade” por obra da maturidade pessoal. Necessitar de um automóvel, poder comprar o modelo de luxo, mas optar pelo modelo intermediário, confortável e não exibicionista. Manter para si o poder da autoestima, e não entregá-lo aos outros, necessitando da admiração alheia sobre nosso sucesso e poder de compra. Esse é o grande e verdadeiro sonho de consumo.
publicado por encontromarcado às 21:53

10
Set 09

 

 
Uma das características do poder é imantar em muitos que o ocupam a pretensão de nele se perpetuar. Nada mais trágico para tais pessoas do que sua perda: ficam com baixa autoestima, sentem-se abandonadas pelos antigos correligionários, lamentam já não usufruírem dos privilégios e das mordomias de outrora. Daí o empenho de tantos políticos para se perpetuarem no poder. Ao se defender no Senado, Sarney gabou-se de estar nele há 55 anos!
 
A questão do poder desponta com o surgimento da cidade-estado, no início do IV milênio a.C. É quando o ser humano se desprende do ciclo da natureza. Já não funda sua identidade nos vínculos comunitários da sociedade agrária. Sua consciência se personaliza, ele se torna senhor do próprio destino, livre das mutações ecológicas que antes criavam nele a sensação de fatalidade.
 
A vida, como fenômeno biológico, adquire progressivamente contornos históricos. O ser humano percebe-se como sujeito, ator social, dotado de consciência da responsabilidade e capacidade de interferir nos rumos da natureza. As provisões já não dependem apenas da coleta e da extração; surge a atividade produtiva. O mundo deixa de ser uma realidade dada; passa a ser transformado e construído.
 
A fundação da cidade-estado, ao inverter a relação do ser humano com a natureza, o faz perceber que não é mais ele que deve se adaptar a ela; ela é que deve se submeter à vontade dele. A invenção do tijolo, como o comprova o episódio da Torre de Babel (Gênesis 11), permite ao ser humano fabricar a base material do mundo. A produção em série o livra dos condicionamentos ambientais e climáticos.
 
Assim, altera-se a função da divindade, à qual natureza e humanidade estavam implacavelmente sujeitas. Antes, os deuses atuavam movidos por forças obscuras que escapavam do controle humano. Agora, são vistos como fundamento e reflexo da hierarquia que caracteriza a cidade-estado. O rei é tido como mediador entre as ordens celestial e terrena. Ele interfere, não apenas na natureza, mas também na história.
 
Embora ele seja revestido de sacralidade, as leis que promulga já não decorrem da imposição dos deuses. São obra humana, suscetível de limitações e erros, interpretações e questionamentos. E a morte, até então encarada como inevitável degradação ou acidente ditado pelo ciclo da natureza, passa a ser encarada pela ótica da tragédia.
 
A história do rei sumério Gilgamesh ilustra esse atávico apego de muitos ao poder. Ela chegou até nós através da Epopéia, redigida em idioma acádio numa tábua de argila do século VIII a.C. Governante da cidade-estado de Uruk, na Mesopotâmia (atual Iraque), Gilgamesh teria vivido em 2650 a.C. A lista sumeriana dos reis o aponta como o quinto da primeira dinastia. Sua função mítica associa-se ao novo olhar sobre o poder: o supremo grau a que pode ascender uma pessoa, comparada aos deuses, e a morte passa a ser considerada inaceitável, pois deuses não morrem...
 
Gilgamesh se queixa de que, ao criar os seres humanos, os deuses os fizeram mortais e reservaram para si o privilégio da imortalidade. Revolta-se ao descobrir que as funções de poder são perenes, os homens que as ocupam, não.
 
Por sua vez, os cidadãos de Uruk reclamam da tirania de Gilgamesh. Criticado por seus súditos, ele sente a solidão do poder. Necessita de um amigo, um alter-ego, o que não encontra em Uruk. Fica sabendo, por um caçador, da existência de Enkidu, que vive no deserto e comparte a vida dos animais selvagens. É o homem que procurava. Confrontam-se as duas violências: a da natureza (Enkidu) e a da cidade-estado (Gilgamesh). Este envia uma comitiva a Enkidu com a missão de trazê-lo do mundo rural ao mundo urbano.
 
Após Enkidu transar com uma prostituta, os animais do deserto já não identificam nele um igual e passam a temê-lo. Como em muitos mitos, inclusive no Gênesis, é a mulher que introduz o homem no discernimento e na vida civilizada. Enkidu encontra Gilgamesh ao entrar na cidade; surge entre os dois uma profunda amizade. Unidos, sentem-se tão fortes que desafiam os deuses. A aliança entre eles reforça o apego ao poder. À perenidade soma-se a onipotência. Porém, Enkidu se enferma e morre. O imprevisto acontece.
 
Gilgamesh, solitário, se revolta. Recusa-se a aceitar a morte. Ele se torna "o grande homem que não quer morrer", diz o texto. Decide partir e aprender com Uta-napishti - único sobrevivente do dilúvio -, a receita da vida sem fim. O poderoso não admite que a morte o destrone do poder.
 
Shamash, o deus-Sol, o adverte: "Você jamais encontrará a vida sem fim que procura". Gilgamesh não se conforma de, após a morte, encontrar apenas um estado de inanição e sono sem fim. Uta-napishti insiste com Gilgamesh para que ele admita não merecer dos deuses o privilégio da imortalidade.
 
O poder pode tudo, exceto evitar que os poderosos sejam "derrubados de seus tronos e, pela morte, despedidos com as mãos vazias", como canta Maria no Magnificat (Lucas 1, 46-55).
 
[Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros.
Copyright 2009 - FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato - MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br)]
 
* Escritor e assessor de movimentos sociais
 
 
publicado por encontromarcado às 03:21

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